Como tudo começou...

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Mensagem por Oliveirinha » 10 fev 2012 10:53

Confesso que ler, escrever e “devorar” tudo o que diga respeito à história do FC Porto é algo, ao qual, não resisto. Por conseguinte, vou tentar postar aqui algo diferente, embora a história seja a mesma.


E TUDO COMEÇOU EM 28 DE SETEMBRO DE 1893

ANTÓNIO NICOLAU DE ALMEIDA, o percursor.
Em termos estritamente legais, o FC Porto surgiu em 1906, mas já antes, em 1893, é possível encontrar referência ao Football Club do Porto, colectividade que tinha como responsável António Nicolau de Almeida, hoje considerado pelo clube do Dragão o seu verdadeiro fundador, surgindo Jose Monteiro da Costa (há uns anos atrás considerado o fundador) como continuador da obra iniciada em 1893.
As referências ao clube de então e ao seu presidente-fundador não são muitas e, a certa altura, desaparecem completamente, deixando entender que o sonho de António Nicolau de Almeida foi de curta duração.
Em 1893, António Nicolau de Almeida contava apenas com vinte anos e, além de dirigente, fazia parte da equipa. O seu interesse pelo futebol terá sido fruto de algumas viagens a Inglaterra e França, onde a modalidade já se encontrava implantada. Não se conhecem pormenores sobre o esforço que terá feito para criar o «seu» FC Porto, uma vez que não existem documentos, entrevistas ou, mesmo, registos de conversas com outras pessoas que levantem a ponta do véu. Sabe-se, tão só, que criou o clube, e existe um manuscrito, assinado por ele, e datado de 25 de Outubro de 1893, em resposta a um convite do Futebol Clube Lisbonense para a realização de um encontro de futebol entre as equipas dos dois clubes. Para além disso, existem em jornais da época referências ao Football Club do Porto. Ou seja a existência do clube está confirmada, como está confirmado que o seu fundador e primeiro (único) presidente foi António Nicolau de Almeida.

JOSÉ MONTEIRO DA COSTA, o impulsionador.
José Monteiro da Costa é o segundo pai do FC Porto. Na realidade, foi ele o grande impulsionador do clube, criando as raízes que deram origem a esta colectividade gigantesca.
O entusiasmo pelo futebol nascera das viagens a Espanha, França e Inglaterra, descrito, aliás, nas cartas que na altura escreveu aos amigos. Regressado ao Porto, foi, também, influenciado pela colónia britânica, onde o futebol já estava implantado. Veja-se que entre os primeiros sócios da colectividade estão vários cidadãos britânicos.
Verdadeiramente interessado em deixar «obra», José Monteiro da Costa não se limitou a criar um grupo de amigos que se juntassem e jogassem futebol, como acontecia no «Grupo do Destino». Criou estruturas sólidas, de tal forma que, quando desapareceu, já existiam bases suficientes para que o clube continuasse a crescer.
Se António Nicolau de Almeida pode ser considerado o fundador do FC Porto, José Monteiro da Costa terá que ser olhado como o seu verdadeiro impulsionador, quando não o refundador da colectividade que hoje existe e que se tem entre as maiores do desporto europeu, no que ao futebol diz respeito.
RENASCIDO PARA A GLÓRIA
António Nicolau de Almeida foi o pai do nascimento, mas o FC Porto «invernou» até que, em 1906, José Monteiro da Costa o despertou.
O FC Porto nasceu em 28 de Setembro de 1893. Não oficialmente, porque só em 1906 elaborou os seus estatutos e formou-se como sociedade desportiva devidamente constituída. Mas antes, em 1893, é possível encontrar referências a um Football Club do Porto, que era dirigido por António Nicolau de Almeida, que terá sido a semente do clube «refundado» por José Monteiro da Costa, este sim devidamente constituído, berço do FC Porto que hoje se conhece.
José Monteiro da Costa fazia parte do Grupo «O Destino», uma sociedade recreativa e cultural, que António Martins, em 1 de Março de 1926, descrevia assim em «O Tripeiro»: “Existia há trinta e tal anos, no Porto, o Grupo do ‘Destino’, composto de uma rapaziada alegre, ruidosa, entusiasta, buliçosa, cuja missão era divertir-se, após as horas de trabalho. Não havia local onde bem se comesse e onde melhor se bebesse que o Grupo do Destino não conhecesse”.
José Monteiro da Costa quis mais, quis um clube organizado, onde pudesse desenvolver a sua modalidade favorita, o futebol, já então implantado em Portugal e em fase de expansão. Influenciado pela colónia britânica que se encontrava na cidade do Porto, arrancou para a «refundação» do FC Porto, dando os primeiros passos de um clube que se viria a tornar num dos maiores do desporto português.
Vivia-se o ano de 1906.
O FC Porto, mais tarde, em 1912, viria a ser fundador da Associação de Futebol do Porto e, por arrasto, da Federação Portuguesa de Futebol, cujos filiados fundadores foram a A.F. Porto e a A.F. Lisboa.

(continua)

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Mensagem por Oliveirinha » 13 fev 2012 17:04

REAL FORTUNA DE VIGO
-PRIMEIRO ADVERSÁRIO ESTRANGEIRO
O velhíssimo campo da Rainha, hoje Antero de Quental, foi a primeira “casa” do FC Porto. Aí se desenrolou um grande acontecimento desportivo da época, o baptismo internacional do FC Porto, frente ao Real Fortuna de Vigo, em 1908.
Na altura, para além de atletas, os clubes tinham também os seus árbitros, que eram inscritos na associação respectiva. É mais um campo onde o FC Porto foi pioneiro, já que o primeiro árbitro português a conhecer a internacionalização pertencia aos quadros portistas. Foi ele Mário Maçãs Fernandes, que dirigiu, em 1912, um encontro em Espanha.

TÉCNICOS ESTRANGEIROS
Do estrangeiro vieram o primeiro técnico do FC Porto em regime de voluntariado e o primeiro técnico contratado.
Adolpho Cassaigne, francês, «ofereceu-se, nos primeiros meses do clube, para dirigir a equipa. Foi o primeiro «mister», treinando o “time” graciosamente, depois de se ter apresentado na sede do clube a oferecer a sua experiência, rica de alguns anos a treinar equipas francesas.
Mais tarde, já em 1925, surgiu o primeiro técnico contratado. A equipa vinha de uma derrota frente ao já rival Benfica e precisava de quem desse a volta à situação, colocando ordem num grupo que apresentava várias carências, sobretudo organizativas.
O húngaro Akos Tezler, já com currículo internacional, foi o escolhido, sendo-lhe atribuída uma autêntica revolução na forma de jogar e estar da equipa.

ECLETISMO E O PRIMEIRO TÍTULO
O FC Porto, desde muito cedo, não se limitou ao futebol. Aprovados os estatutos, iniciada a nova etapa na vida do clube, várias foram as modalidades que começaram a aparecer no clube.
Primeiro, os desportos náuticos, com a natação à cabeça, seguindo-se o «water-polo». Os treinos realizavam-se no mar de Leixões e no rio Douro. Atletismo, peso e halteres e luta greco-romana, entre outras, foram modalidades que, aos poucos, se começaram a praticar no clube. Aliás, o primeiro título nacional conquistado pelo FC Porto foi, precisamente, na luta greco-romana, por intermédio do atleta António Soares, em 1921.

NOVO CAMPO NA CONSTITUIÇÃO
Em 1913, já o FC Porto não cabia no Campo da Rainha. Houve necessidade de mudar para instalações mais amplas e mais funcionais. Depois de alguma polémica, a escolha recaiu nos terrenos existentes na Constituição, sendo aí erguido um complexo, que foi inaugurado em 1 de Janeiro de 1913, com um encontro entre o Oporto Crickett Law-Tennis e o FC Porto.
No dia da mudança, os portistas pagavam uma renda de 350$00/ano.

NOMES GRANDES
Nos seus primeiros aos de actividade «legal», passaram pelo FC Porto alguns nomes importantes, que hoje têm o seu nome gravado na história do desporto portguês.
Para além de José Monteiro da Costa, registe-se, entre outros, os nomes de Acácio Mesquita, Avelino Martins, Waldemar Mota, Miguel Siska, Pedro Themudo, Álvaro Sequeira, Álvaro Pereira, Simplício Tavares Bastos e o «grande» Pinga, considerado pelos mais velhos como um dos melhores jogadores que pisaram os campos portugueses.
SONHOS
Na impossibilidade de, em tão poucas linhas, dizer muito sobre a vida do FC Porto, recordo um facto que salienta a vontade de engrandecimento que sempre alimentou os dirigentes Portistas:
Em 1922, já o FC Porto pensava num estádio, ainda que só em 1952 viesse a inaugurar o Estádio das Antas. A ideia teria surgido, tal como quando se construiu o Campo da Constituição, por causa do aumento do número de associados (que continuou e continua, a subir até aos nossos dias) e da melhoria de condições a oferecer aos desportistas. Houve uma proposta de uma comissão eleita para que fossem adquiridos os terrenos da Quinta das Oliveiras, onde se construiria o futuro estádio…Sonhos, na altura!
Estes terrenos situavam-se junto da rua Barão Nova Sintra, mas os planos acabariam por não se concretizar, dando lugar, mais tarde, à compra dos terrenos das Antas, onde viria a ser construído (e ao longo dos anos ampliado) o já extinto, Estádio das Antas.
Em Fevereiro do 1922, o jornal «Os Sports» apresentavam, com curiosidade e algum... arrojo, o plano das «futuras instalações atléticas do F. C. Porto»: «O Parque das Oliveiras, que este clube acaba de adquirir, está situado em pleno coração da cidade, na Rua Barão de Nova Cintra. Numa inigualável situação topográfica, dominando o grandioso panorama do Douro do alto de um morro, cujos horizontes se estendem para três lados até longínquos montes de além-Douro, ocupa uma extensão de cerca de 60 mil metros quadrados, nos seus dois terços coberto por frondosas árvores, cujas sombras se estendem até ao limite do parque formando esplêndido fundo aos jardins que cercam o palacete, onde se instalarão as salas e gabinetes do clube. No palacete em questão, e que tomamos como centro do parque, poucas modificações serão feitas, devendo as salas do rés-do-chão servir de salão de honra e de restaurante permanente e o primeiro andar para salas de jogo, bilhar, leitura, gabinete da Direcção e várias secções. Em frente da casa, no jardim que a precede, ficará um rinque de patinagem e à sua direita, aproveitando e transformando um armazém existente, erigir-se-á um ginásio, suficientemente amplo e em boas condições de arejamento e luz. Entre este e a sede situar-se-ão dois courts de ténis, cercados a toda a volta por tribunas, menos na cabeceira norte onde se conservará em esplêndido fundo natural verde-escuro, formado por um renque de árvores (camélias). Por detrás dos courts haverá uma piscina toda coberta e cercada de vestiários, de dimensões suficientes para que nela se possam disputar provas oficiais e encontros de water-polo. Ao fundo do parque projectam a edificação de um stand de tiro aos pombos. Passados os courts de ténis, além do ginásio, ficará o campo atlético para futebol e desportos ao ar livre. As dimensões serão as maiores regulamentares e cercando o campo uma pista para desportos atléticos, tendo a um lado pistas para saltos e lançamentos. Todo o terreno será cercado por tribunas cobertas em toda a volta, excepto às cabeceiras, os vestiários ficarão adjuntos numa edificação costas com costas com a tribuna da frente, e que contribuirá para aformoseamento da respectiva fachada. Segundo o projecto em estudo as tribunas comportarão 20 a 25 mil espectadores, o que é demasiada lotação para agora, mas prevê já um futuro em que o desporto adquira maior popularidade. Finalmente, por detrás da sede, do ginásio e dos courts de ténis, topo a topo com o terrenos de jogos, estudam os rapazes do Porto a possibilidade de instauração de um terreno para concursos hípicos, o que por enquanto me parece impossível por falta de largura da zona disponível. Também dependente da compra de uns terrenos está a construção de um posto náutico à beira-rio que seria ligado por uma ponte aos terrenos superiores do clube.»
Obras que, no seu conjunto, custariam cerca de... mil contos, segundo as previsões. Contudo, tudo falharia porque o proprietário dos terrenos acabou por dar o dito por não dito, não vendendo a Quinta das Oliveiras ao F. C. Porto. Pagaria pelo logro uma indemnização de 80 contos, verba que se aplicaria na construção de bancadas no Campo da Constituição. Por essa altura, os sócios do F. C. Porto pagavam de jóia vinte escudos e de mensalidade dois escudos e cinquenta centavos. Um ano antes, em Assembleia Geral realizada a 26 de Outubro de 1922, em que se fizeram Gago Coutinho e Sacadura Cabral, «por tão alto erguerem o nome de Portugal», sócios honorários do F. C. Porto, foi decidido alterar o distintivo e a bandeira do clube. A colocação das armas da cidade sobre a bola azul — que em primeiro projecto fora de prata — surgiu do projecto artístico traçado por Augusto Baptista Ferreira, artista gráfico já renomado, que jogava futebol na primeira categoria sob o apodo de «Simplício».

(continua)

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Mensagem por Oliveirinha » 15 fev 2012 10:31

O PRIMEIRO TÍTULO NO FUTEBOL
Em termos nacionais, a primeira competição de futebol realizada em Portugal, em 1921/22, chamou-se Campeonato Nacional e foi conquistada pelo FC Porto, que defrontou, na final, o Sporting.
A prova era dividida em duas fases: primeiro a nível regional, com uma série no Porto e outra em Lisboa, cujos vencedores se defrontavam na fase final, discutindo a posse do troféu. A «discussão» fazia-se a duas mãos, tendo o primeiro jogo sido disputado na Constituição, vencendo o FC Porto, por 2-1. Em Lisboa foi a vez do Sporting ganhar, por 2-0 e, na finalíssima (não havia vitórias por diferença de golos), no Campo do Bessa, o FC Porto conquistou o título, ao vencer por 3-1, após prolongamento.
F. C. Porto venceu o primeiro Campeonato de Portugal, em 1922. Após três jogos com o Sporting. Todos marcados por emoção, foguetório e pitoresco.

Eram 16.15 horas de uma tarde escura, de chuva intermitente, de Junho de 1922. No céu pardacento estralejava foguetório. Como se na cidade fosse dia de arraial de S. João. Nas bancadas acanhadas do Campo da Constituição, cheias como um odre, os adeptos portistas, como que atiçados pelo fogo sagrado da esperança, agitavam-se como abelhas em cortiço. Fazendo fé no cronista de «Os Sports», avultava entre a assistência «a graciosidade e a beleza das senhoras». F. C. Porto (na sua condição de campeão do Norte) e Sporting (campeão de Lisboa) pelejavam, assim, pelo primeiro Campeonato de Portugal, organizado de escantilhão, envolvendo apenas essas duas equipas, em opção que não deixou de ser contestadíssima. Mas, de súbito, quase todos os espectadores se concentraram num pequeno nada de pitoresco e emoção, assim contado pelo jornalista lisboeta de «Os Sports»: «Às 16.30 horas precisas entrou no campo o valoroso grupo do Sporting, garboso, com a sua camisola verde-branca. A assistência saudou-o freneticamente, exteriorizando, assim, a sua muita consideração. O F. C. Porto fez-se esperar. A demora era motivada pela falta de João Nunes que — segundo alguns — teria ido à romaria do Senhor de Matosinhos. Daí a sua ausência. Decorridos 15 minutos além da hora oficialmente marcada, descortinámos, enfim, ao longe, o grupo do Porto, que serenamente entrou em campo sob uma estrondosa salva de palmas. Eram 16.45 horas. O árbitro, mr. Barley, apitou. Reuniram-se os grupos e escolheram o campo.»

O remate de Ramos e o balde de água fria.

Os portistas, denotando uma «vontade indómita» de vencer o «colosso» de Lisboa, multiplicaram esforços e conjugaram-se «no persistente intuito de mais enobrecer a bandeira do seu clube», atirando-se, desenfreadamente, para o ataque, mas, fazendo, outra vez, fé em «Os Sports», «o Sporting, atento e vigilante, inutilizava com brilho as perigosas descidas do adversário». Com Jorge Vieira «soberbo de precisão e oportunidade». Subitamente, balde de água fria: longo pontapé de Vieira enviou a bola ao campo contrário, Emílio Ramos apoderou-se dela e marcou para o Sporting. «Bola ao centro. Os jogadores portuenses não desanimam e reagem com ímpeto. O jogo mantém-se enérgico — um tanto violento e um tanto movimentado, pertencendo ao Porto um leve domínio, que aproveita para marcar o seu primeiro ponto. Esta bola foi consequência de um 'viranço' de Balbino que, bem aproveitado por Tavares Bastos, produz o golo...»
A assistência manifestou-se delirantemente, com as faces a estoirarem de sangue e optimismo redescoberto, por um longo espaço de tempo. «Cada fase do jogo é atentamente seguida pela numerosa assistência, que exprime o seu máximo interesse nas variadas contracções fisionómicas.»
Intervalo. Decorrido o tempo regulamentar de descanso e de novo os grupos em campo, as opiniões extremaram-se em ferventes apostas. Denotava-se um ambiente febril.

Júlio que sai e Júlio que volta.

Surprendentemente, Júlio Cardoso não apareceu no seu lugar, sendo substituído por Alexandre Cal. O Sporting aproveitou a mudança e a falta do coriáceo defesa portista para assediar com insistência e perigosamente as redes de Lino, obrigando-o a um trabalho penoso. «Porém o guarda-redes portuense estava feliz e assim inutilizava os mais perigosos remates adversários.»
Mas, de súbito, voltou Cardoso à liça, sendo «alvo de uma calorosa ovação». O jogo modificou-se como por encanto, vendo-se de novo o F. C. Porto no campo do seu «forte adversário».
Ouviram-se vários silvos estridentes indicadores do célebre quarto de hora final. João Nunes, claramente sem a protecção do... Senhor de Matosinhos, tivera soberba ocasião de marcar, mas chutou a bola para fora. Ululava-se nas bancadas da Constituição. Entretanto, «magoou-se um jogador sportinguista, motivo porque a bola foi lançada ao ar a uns 10 metros das suas balizas»!
Faltavam seis minutos para terminar o encontro. Balbino conseguiu descer, endossando a bola a Tavares Bastos. Amadeu, entrevendo o perigo, deslocou-se para interceptar, mas o avançado portista, «enganando-o com oportunidade», chutou e o esférico foi-se anichar a um canto das redes do Sporting. Golo! ouve-se em uníssono. Indescritível o entusiasmo e o calor dos aplausos. Forte comoção entre os portistas. Foguetório a estralejar no céu cobreto de nuvens negras com mais vigor. Quando o árbitro deu por terminado o encontro, uma mole de gente invadiu o campo, envolvendo os jogadores em abraços, levando alguns deles em triunfo. Como heróis, resfolegando, perolados de suor. Mas ainda faltava outro jogo. Em Lisboa...
Para o cronista (anónimo) de «Os Sports», no F. C. Porto, «Lino esteve soberbo. Artur Augusto e Júlio Cardoso foram uma barreira instransponível. Floriano, bom. Velez Carneiro pôs, mais uma vez, em realce as suas qualidades de médio-centro. Dos avançados, sobressaiu Tavares Bastos com o concurso de Balbino da Silva e Alexandre Cal».

Árbitro espanhol, prognóstico e a guerra-fria.

Para o segundo jogo entre o F. C. Porto e o Sporting a União Portuguesa de Futebol escolheu um árbitro... espanhol, de nome Montero. Esperava-se luta pegada, no Campo Grande. Assim foi, perante uma «assistência numerosíssima, tanto na geral como nas bancadas e camarotes». Os sportinguistas antegozariam, assim, o prazer do ajuste de contas, vencendo por 2-0 e obrigando a terceiro jogo, que, por sorteio, calhou disputar-se no Porto, mas no... Bessa. Em «Os Sports» prognóstico, sem pestanejos: «Sem desprimor para o F. C. Porto, vaticinamos nova vitória para o Sporting, pois a avaliar pelo que vimos neste desafio o F. C. Porto é, inegavelmente, inferior ao Sporting, apesar de este não ter feito um jogo perfeito e estando, até, numa tarde infeliz».
Depois, outra vez em «Os Sports», então o primeiro jornal desportivo nacional, críticas desenroladas à metodologia escolhida pela União Portuguesa de Futebol para a disputa do primeiro Campeonato de Portugal de futebol — e, mais que isso, ao ambiente maniqueísta que se suspeitava estivesse a criar-se: «Não foi feliz a União no critério adoptado. O Campo do Bessa, pertencente ao Boavista, é talvez o melhor do Norte, mas está longe de satisfazer, e, no caso presente, muito especialmente na sua neutralidade para um dos clubes finalistas. Fundamentada ou não, a última semana serviu para uma campanha profunda para o Sporting, dispondo mal os espíritos para uma condigna recepção aos campeões de Lisboa. Um jornal do Porto refere-se mesmo abruptamente aos desportistas lisbonenses, acusando-os de ter recebido friamente os representantes da Invicta Cidade. Semelhantes processos de jornalismo são sempre condenáveis e a imprensa, cuja missão é de ordem e união, converte-se assim num instrumento de rebelião e de má camaradagem. Se porventura culpas houve na capital da República, eu não procurarei atenuá-las. Apenas suponho que as palavras sibilinas do jornal do Porto nada modificaram os factos passados e não contribuíram de forma alguma para a união e boa harmonia entre os amadores do desporto nacional.»
Eram os sinais de uma cidade transformada em barril de pólvora...

(continua)

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Re: Como tudo começou...

Mensagem por Oliveirinha » 18 fev 2012 15:05

Gago Coutinho, a festa e o repouso ferido do leão

A chegada de Gago Coutinho e Sacadura Cabral ao Rio de Janeiro fizera sair o Porto da sua pacatez habitual. Os morteiros sucediam-se amiúde e bandas de música percorriam as ruas embandeiradas da cidade, arrastando grande massa de povo. Temia-se que «perante o acontecimento mundial, em que a palavra Portugal ficou mais uma vez escrita com letras de ouro no progresso da civilização», a finalíssima do Campeonato de Portugal fosse relegada para segundo plano. Mas não. Seria aproveitada pelos portuenses como complemento da festa que aquecera em todos eles o orgulho de o serem. E poderia ser, também, um bom auspício... Por isso, segundo registo de «Os Sports», «a noite de sábado [véspera do desafio entre o F. C. Porto e Sporting, esgotados já os bilhetes que custaram... dois escudos] passou-se em constantes manifestações, acompanhadas dos ‘simpáticos’ morteiros cuja intensidade de detonação era função do cunho que se desejava dar à festa», pelo que «os jogadores de Lisboa, hospedados no Hotel Portuense, deveriam ter tido má noite de repouso e de preparação para um desafio de tamanha responsabilidade como é a final do Campeonato Nacional».
Não admirou, pois, que o parque de jogos do Boavista fosse pequeno para conter a enorme e irrequieta assistência, que, duas horas antes do início da partida, se comprimia já, de instante a instante, na ânsia natural de melhor se aboletar. Os registos do que se foi passando são, outra vez, respigados de «Os Sports». «Às 16.55 horas entrou em campo o Sporting, que a assistência, correcta e educada, recebeu com uma quente manifestação de entusiasmo sincero, inutilizando as atenções condenáveis de uns tantos facciosos a quem o sport nada deve ou teme. Logo a seguir entrou o F. C. Porto que foi recebido com larga manifestação de carinho. Passados 15 minutos, Neves Eugénio [o árbitro, pertencente ao Académico do Porto] mandou alinhar os grupos, que se achavam constituídos na sua máxima força. Saiu o Sporting, com o Sol contra. O jogo pareceu tomar uma feição violenta — violência própria do jogo e da responsabilidade do desafio...»
Luta renhida de entusiasmo.

(continua)

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Re: Como tudo começou...

Mensagem por Oliveirinha » 21 fev 2012 11:58

MEMÓRIA A JOÃO LOPES MARTINS
O FC Porto, ao longo do seu historial, esteve também presente noutras modalidades. Desde cedo, no atletismo, natação, water-polo, ciclismo, ginástica, hóquei em campo, patinagem, ténis, andebol, basquetebol, boxe que tantos atletas movimentaram, alguns dos quais continuam na nossa memória.
A terminar, e como referência especial, João Lopes Martins, o atleta nº1, o mais eclético de todos os quantos passaram pelo FC Porto.

(MÁS) RELAÇÕES COM A IMPRENSA
Já em 1910 havia razões de queixa
Estava-se no ano de 1910 quando o FC Porto «conheceu» o seu primeiro atrito com a imprensa, na circunstância com o «Sports Ilustrados», um jornal de Lisboa que não terá ficado contente com a forma como os Portistas reagiram a uma derrota frente ao Académico de Lisboa, que se deslocara ao Porto para uma série de jogos.
Falava-se, então, de falta de desportivismo. Veja-se, através de alguns extractos (respeitando a ortografia), retirados do Volume I da História do FC Porto (1954), de Rodrigues Teles, a crónica publicada em 1911:
« (…) Um homem de sport é vencido com um sorriso e é o primeiro a apertar a mão ao vencedor. (…) Em todo caso, quem vencido mostra inferiridade atlética, pelo menos no momento da luta. Que em sport há só isto: quem ganhou e quem perdeu. Quem ganhou é melhor; quem perdeu é peor. Daqui não se pode fugir.
« (…) O FC Porto apresentou um team no campo, como sendo o seu 1º grupo, e foi derrotado pelo Académico. Gritou imediatamente que os jogadores que oppuzera aos de Lisboa não eram o seu 1º team.
«Se ganhasse, calar-se-iam, juramos!
«Dias depois, bateu-se contra um team francêz razoável e perdeu apenas por 1 goal a 0.
«N’essa altura também não deve orgulhar-se da primeira derrota, porque também não era o seu primeiro time que jogou.
«A nossa humilde opinião sobre tudo isso, com a imparcialidade que nos caracteriza, é a seguinte: o primeiro team do FC Porto é melhor do que o que jogou contra os académicos e peor do que o que jogou contra o Vie au Grande Air du Médoc.
«Mas, ganhando ou perdendo, se os jogadores portuguezes tivessem educação sportiva, ter-se-iam callado. Apesar de toda a chicana, o que os portuenses não podem evitar é que, officialmente, sejam considerados derrotados pelos académicos e pelos francezes.
« (…) Convençam-se, senhores: não sabem perder, ninguém sabe perder. E é essa a razão da chicana em volta dos matches com os clubes do Porto e dos incidentes com os desafios officiais em Lisboa.
«Meus caros portuguezes, vós haveis de ser sempre os mesmos!».
Os Portistas não gostaram, disso, até, que a imprensa lisboeta zangara-se com o clube e Rodrigues Teles, no seu livro, comenta:
«Publica-se, evidentemente, para dar conta dos processos da época, nem melhores nem piores que os de hoje».

(continua)

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Re: Como tudo começou...

Mensagem por Oliveirinha » 25 fev 2012 09:36

A PRIMEIRA EQUIPA
Foi o seguinte grupo que, de camisola branca debroada a vermelho, representou pela primeira vez o FC Porto:
Carlos Vouga Pinheiro; António Elisabeth de Mesquita e Joaquim Mendes Correia; António Martins, Catullo Gadda e Joaquim Boada; Francisco Bastos, Manuel Araújo, Alfredo Hardy, José Monteiro da Costa e Joaquim Rodrigues de Freitas.

O PRIMEIRO PLANTEL
O PRIMEIRO plantel oficial do FC Porto, apresentado na A.F. Porto em 13 de Dezembro de 1913, para a disputa do primeiro campeonato Regional, era assim constituído, nas diversas categorias:
1ª Categoria – Peter Jensen; W. Harrison, Vitorino Pinto, Mário Maçãs, Charles Allwood, José Magalhães, Bastos, Hermano Weber, George Legg, Constantino Encarnação, Gustavo Gama Lobo e John Jones.
2ª Categoria – Manuel Valença, Fernando Castelo Branco, José Ferreira da Silva, Gaspar de Castro, Adelino Costa, José Francisco Magalhães, Camilo Moniz, Camilo de Figueiredo, Carlos Megre, H. Walker e Ivo Cid de Lemos.
3ª Categoria – Alberto Vilaça de Carvalho, António Carlos, Artur Pimenta, Izidoro Dias, José Bacelar, Haus Hrohn, Lamartine Oliveira, Martinho Ribeiro, José Marques Miranda, Alexandre Leal e António Machado da Cunha.
4ª Categoria – Guilherme Marques, Mário Gouveia, José Filomeno da Costa, Alfredo de Almeida Pinheiro, J. A. Marques e Silva, António Corte Real, Henrique Tavares, Jorge de Barros e Ãngelo Ferreira.
Na mesma época, foram inscritos como árbitros: Eduardo Dumont Vilares, Carlos Megre, Ivo Lemos e Mário Maçãs.

PRIMEIRA PROVA OFICIAL
A PRIMEIRA prova oficial que os Portistas venceram foi a Taça José Monteiro da Costa, que se iniciou em 1911 e onde só podiam participar atletas portugueses.
A final foi disputada entre o FC Porto e o Boavista, tendo o conjunto Portista alinhado da seguinte forma:
Manuel Valença; Clysio Bessa e Vitorino; Mário Maçãs, Adelino Costa e Magalhães Bastos; José Bacelar, Camilo Monis, Carlos Megre, João Cal e Ivo Lemos.

(continua)

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Re: Como tudo começou...

Mensagem por Timofte » 01 mar 2012 10:07

...excelente Oliveirinha...e mais, a Vencer Desde 1893...É esta a nossa história...
...Estejam onde estiverem, este é o Vosso Destino...

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Re: Como tudo começou...

Mensagem por Oliveirinha » 01 mar 2012 13:37

A propósito:

Primeira vitória sobre o Benfica

A 4 de Abril de 1920, em Sete Rios, Lisboa, o FC Porto conseguiu a sua primeira vitória sobre o Benfica, por 3-2.
O FC Porto esteve a ganhar por 3-0, com golos de Alexandre Cal e Joaquim Reis.
Estranho foi o facto de no dia seguinte ao encontro frente aos encarnados, nenhum dos jornais de Lisboa ter feito referência a este jogo, ao contrário do que acontecia quando o FC Porto perdia...

Foi neste encontro que se estreou Norman Hall, um avançado inglês que se destacou pela sua extrema cortesia e fair-play. Foi capitão do FCP durante vários anos.

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Re: Como tudo começou...

Mensagem por Timofte » 01 mar 2012 14:04

...monopólio da CS desde 1920...
...Estejam onde estiverem, este é o Vosso Destino...

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Re: Como tudo começou...

Mensagem por Fiori » 10 abr 2013 18:59

A história do FC Porto: Os Guarda-Redes!

http://tribunaportista.blogspot.pt/2013 ... redes.html" onclick="window.open(this.href);return false;
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Re: Como tudo começou...

Mensagem por Fiori » 07 mai 2013 18:36

Os Campeões!


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Re: Como tudo começou...

Mensagem por Fiori » 07 mai 2013 18:36

Espantosa crónica!!!
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Re: Como tudo começou...

Mensagem por Velho Son1c » 07 mai 2013 18:39

Excelente!! Vamos la crl!! Eu estou electrico..tenho que tomar calmantes!!
31-08-2014

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Re: Como tudo começou...

Mensagem por Dragãolux » 07 mai 2013 21:00

Fiori Escreveu:Os Campeões!


http://tribunaportista.blogspot.pt/2013 ... peoes.html" onclick="window.open(this.href);return false;
Grande Trabalho !!! :venia: :venia: :venia:

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Re: Como tudo começou...

Mensagem por Fiori » 07 mai 2013 21:08

E o senhor não foto ao lado do Jorge Costa?

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